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Psicanálise: um processo

  • Foto do escritor: Júlia de Souza Lopes
    Júlia de Souza Lopes
  • 18 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura

Divã
Divã

Muito se fala sobre o início de análise e um pouco menos sobre o fim, mas ainda com menor frequência se produz materiais sobre o desenrolar desse processo, apesar de isso ser o que nós, psicanalistas, mais estudamos em geral.


A verdade é que passar por um processo terapêutico, qualquer que seja, pode ser, e geralmente é, difícil; na psicanálise não é diferente. Falar daquilo que dói, que causa angústia e escutar esse vazio muitas vezes sem nome, é difícil. Mas, acredito que apesar de exigir, a análise também produz, também dá alívio em troca.


Apesar das inúmeras abordagens teóricas, das diversas e singulares maneiras pelas quais se pode passar por um processo psicoterapêutico, acredito que o denominador comum para que esta empreitada seja possível é confiar na profissional que te acompanhará nela e, por que não, até uma identificação com essa figura. Ainda que se trate de uma fantasia de identificação - uma identificação parcial já que nunca se tem acesso ao todo - ela é essencial para que a transferência possa acontecer e, por consequência, uma análise. Isso não significa que seja necessário que procurar uma profissional que seja igual a si para fazer análise. Mas, parece pouco provável que frente a uma tarefa que é potencialmente tão custosa - e aqui custoso tem sentido duplo -, vá ser possível caminhar ao lado de uma pessoa na qual não se confia.


Sempre que penso sobre o processo de análise e seus desafios me lembro de uma anedota de uma ex-paciente de Lacan que gosto muito e que, para mim, descreve bem o que é passar por uma análise. Ela conta que fazer análise com Lacan era como ter alguém que te sacudia com uma das mãos, mas que com a outra te segurava firme, te amparava. Em momentos de vulnerabilidade e fragilidade é preciso confiança para permitir que alguém entre, que te escute e possa falar sobre aquilo que escuta, pois nem sempre este é um processo gentil, por mais que seu analista doure a pílula. Análise não se trata disso.


Para mim, fazer análise tem a ver com se reencontrar com o desejo, talvez há muito perdido. É poder historicizar sua vida junto a um outro que aponta e propõe novas possibilidades de significar o que até então estava cristalizado. E isso, de fato, só é possível em um processo; não acontece de uma hora para outra.

 
 
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